Tuesday, November 28, 2006

Vida, que estilo?

Libraries gave us power/Then work came and made us free/What price now/for a shallow piece of dignity/I wish I had a bottle/Right here in my dirty face/to wear the scars/To show from where I came
Manic Street Preachers, Design for Life (1996)

Há exatos dez anos eu comprava "Everything Must Go", dessa mesma banda, e sentava numa cadeira do Belas Artes para assistir "Trainspotting", rasgando o plástico do CD, conferindo as letras das canções e pensando estar vivendo o meu tempo, com os filmes e músicas que aquela época pedia. Há exatos dez anos eu deixava a órbita comum dos que acompanhavam a música apenas pelos jornais para acompanhá-la de outra maneira, de onde ela surgia.
Essa insurreição fez parte da vida de um meio monte de gente àquele ano. 1996 era pré-internet (a primeira experiência comercial no Brasil havia sido feita poucos meses antes, em março de 95), e informação ainda se comprava em bancas de revistas. E as gringas, então, custavam o mesmo preço que uma nacional, adiantando coisas que os velhos críticos de rock demorariam alguns meses para falar. E foi assim com o Manics, gelando a espinha como ela não gelava desde a primeira vez que eu ouvi Clash falando sobre bombas espanholas sobre a Andaluzia. Putz, era política e era música, o que detonava a química das paixões que me seguiam desde um 1982.
E James Dean Bradfield e Nicky Wire detonavam a política do lado oprimido, de quem não tem medo de expor de onde veio. O exemplo da canção aí de cima talvez seja o melhor de todos, mas naquelas 12 músicas ainda existia "Kevin Carter", "Elvis Impersonator" e, claro, "Interiors".
Toda vez que um verso pedia que eu me lembrasse de onde eu vinha, batia a mão no peito e detonava um hardcore, gritando, soltando os pulmões e querendo viver mais do que já havia vivido até então. O Manics para mim era revolução, mas a da redescoberta, de quem não tem vergonha de dizer de onde veio. Eles norteiam a minha vida assim como qualquer estrela.

Wednesday, November 22, 2006

Pôxa, bicho

"Pôxa bicho, que história triste... Triste e bonita." A frase é do Roberto, analisando a vida de Paulo César Araújo, autor de "Roberto Carlos em Detalhes", mas poderia ser a sua, ao final das centenas de páginas do livro. O Roberto, aquele cara que cantou minha infância e voltou soberbo na minha fase adulta, é o homem dos olhos tristes, tristes como os da minha tia Ignês.
Na minha vida, posso dizer que falei com duas pessoas que fazem parte dela tanto quanto são parte dela, bicho: o Rei e o Lula, o nosso rei. Só por ter feito isso, antes dos 30, poderia ter feito o tempo parar e dizer "valeu, bicho".
Pára o tempo: outubro de 1999, interior da catedral de Nossa Senhora Aparecida. Roberto cantava pela vida da mulher, Maria Rita, o único amor de verdade, aquele que o faz parar cada entrevista e pensar e olhar mais triste. Foi meu primeiro encontro com o Rei, algumas semanas depois de meu coração ter ficado vazio e ferido, com marcas que o tempo demoraria a curar.
Dois meses depois, estava sentado em uma sala na zona sul de São Paulo. Em frente à minha cadeira, Luiz Inácio _quando criança, achava esse Inácio engraçado, porque era assim que minha tia Ignês havia ensinado minha prima a se defender das convulsões; minha prima morreu em abril, no take mais triste deste ano.
Fui tratado por Lula como um parceiro, um chapa. A conversa fluia porque Lula sabe conversar: tem falando o dom que o Rei tem cantando.
De novo peço que o tempo pare. Sobre a minha mesa, dois livros: o de Paulo César e outro, de Mario Morel, editado em 1981, sobre os primeiro passos de um líder sindical.
Está lá: ele é um líder nato, daqueles que não tem do que temer; dá respostas prontas, de sabedoria como mais enxergamos e de outra, que disfarçamos para não perceber _a sabedoria da vida e, bem bicho, essa ele tem muito.
Nessa hora, a história dos dois e a minha se encontram de novo, da mesma forma que se encontraram em 99. Posso voltar no tempo e lembrar das canções de Roberto executadas com um cabo de vassoura na mão, como microfone, no início dos 80; ou no final daquela década, pé firme no asfalto, marchando a Brigadeiro Luís Antonio de ponta a ponta para fazer um pouco de força e torcer para que nosso presidente tivesse barba e coração, como agora.
Não perdi as ilusões, como a maioria cisma de dizer agora. Os dois continuam aí, com a mesma verve com as palavras cantadas ou discursadas. Duas vidas tristes até, mas bonitas.

Sunday, November 19, 2006

Amor à causa

Essas moças desistiram. Caçam no colo daqueles que caçam no mesmo lado por não ver chão no sexo oposto. Elas querem alguém que as ouça, mesmo que sem dar ouvidos, sabe?
Minhas amigas falam, e eu tento entender _repetindo o mantra gerundiano do mundo livre s/a, ainda estou tentando entendê-las. Elas dão o ponto quando dizem o que não querem ver aqui do meu lado da equação masculina, a que não caga regras nem tem medo de ouvir não ou sim ou tanto faz quem sabe, e tento desvendar seus problemas por meio de meus segredos, que só abro ali, em meio delas, os horríveis que não são coisa de contar em bar de homem suado e cervejado. E gosto do retorno, quando elas param e pensam e ouvem o que você tem a dizer.
Chegar aos 30 anos com bons amigos, sem nem recorrer a partes pseudo-acolhedoras, é como ser personagem de sitcom: no fundo, você banca o teu lado solteiro e impõe que melhor é acolher ninguém que perceber de nada servir ter alguém do teu lado, além de um abraço carinhoso e tal. Desprovidos do sentimento narcisista e sem recorrer a vícios maniqueístas ou misóginos, a gente pode dar ouvidos e colo, passar a mão na cabeça e até dizer "eu te amo" _tudo isso num crescendo que independe de dosagem alcoólica. É amor à causa, meu chapa.

Friday, November 17, 2006

"Você é foda."

Ela desligou o telefone. Agora, a vitória na queda de braço era minha. A luta se estendeu pelos meses e anos seguintes, e vez ou outra um proclamava a vitória. Campeonato de pontos corridos.
No mata-mata que importava, eu havia tomado um baile. Engoli o coração e disparei absurdos que não se disparam à toa. Mas eu tinha que disparar. Estava ali uma quebra de contrato, um rompimento. E eu era o presidente do clube traído. Queria meu craque de volta. Para a Europa?
"É. Casa comigo e a gente vai. Eu parto em fevereiro."
A idéia era absurda, já que eu havia pisado no Velho Continente havia meses, e não sentia falta. Quer dizer, sentia sim. Duas partes estavam em outra órbita. Uma eu havia reencontrado; a outra, seguia distante. A decisão era juntar esses dois pedaços. Mas eu não quis. A liberdade de escolher naquela hora era minha.
Toca o telefone no cinema. Um minuto para a sessão – os dedos em fila já eram exibidos no telão.
"Estou de volta. Quero te ver. Vamos?"
Aquele era o primeiro filme depois de meses gastos em frente a um terminal, redigindo títulos e perdendo a paciência. O tempo me deu olheiras, e lá estava eu acabado. Da sala parti para o encontro. Em um apartamento metros acima da festa da firma, que eu chamo de elevador. Tive de pegar um para descer onde eu queria. Mal eu sai e lá estava ela. Conversa rápida, dois ou três minutos. Toca para a festa da firma.
"Me empresta a comanda?" Sim, mas onde ela está? Os dois bêbados e perdidos naquela noite suja deixaram a comanda voar. A taxa era salgada, mas uma boa negociação rendeu um ótimo resultado: pagamos menos do que consumimos. Eu queria a liberdade bêbada, mas ela já estava no táxi com outro. Tive de ir para o metrô e me contentar em repartir a solidão com 300 no vagão.
De lá para cá, foi só mais um e-mail e outro pedido de casamento, agora de brincadeira. Tem quem ache que a história não fechou, mas estou um pouco cheio de suas brincadeiras.
As da história, não as dela.

Love me two times

"Oh my lover
Don't you know it's alright?
You can love her
You can love me
at the same time"
PJ Harvey, em "Oh my Lover" (1991)
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Ela quis dividir o homem para não perdê-lo. E dá-lhe comparações com as mulheres de enredos dramáticos, porque a cada passo a gente entende que o desespero feminino está restrito à novela das oito _mas, bem, ele sempre existiu, antes, durante e continuará depois de Manoel Carlos.
Mas não há o que entender. O amor de verdade, já diria Raul Seixas na década de 70, vai além da posse (e, bem, para que posse se o que importa é o amor?): ele reside no sentimento, na vontade de ter alguém do lado, de dizer que se ama. E pode se amar duas, três, quatro vezes ao mesmo tempo, não é pecado, pode amar, deixa a Polly Jean falar, cantar, espreguiçar.
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Bem, isso era sobre "Oh my Lover". Agora é sobre as "Peel Sessions" que chegam às lojas em breve, compilando o melhor de Polly desde as primeiras gravações, de 1991, até as últimas, em 2004, ano da morte do radialista John Peel, o maior da história (aqui está o texto que escrevi no dia de sua morte). "The Peel Sessions - 1991/2004" é um achado, por ser ao vivo sem público, por despertar a emoção de quem apenas começa ou está no auge do sucesso (como as faixas que foram gravadas em 1996, um ano depois de "To Bring You My Love"). Por quem, ao lado de quem gosta, exprime o melhor e sabe valorizar cada passo na carreira. Este disco, pode-se dizer, vale tanto pelo que está lá gravado quanto pelas palavras do encarte, com uma PJ Harvey quase envergonhada expressando o amor que sentia pelo radialista britânico, principal nome da BBC.
Assim como ela, todos nós podíamos o amar ao mesmo tempo. Que síntese, essa.

Tuesday, November 07, 2006

O caminho do trovão

Vou por onde o Bruce me ensina. Está lá, na segunda faixa, ele cansado das pequenezas da vida e de sua cidade, ele precisa ver mais as luzes porque os outros empalidecem o brilho do sol _a estrada, dali para a frente, pode ser pequena para ele, mas é a única esperança que avista.
Bruce nasceu para correr, já delata o nome do disco. Ultrapassa um pouco mais que a metade da quinta década de vida, mas corre, corre, corre. Ele é de Freehold, Nova Jersey, um trocadilho para quem iria escrever e cantar e tocar o disco da minha vida. "Liberdade presa", diria? Ou meu inglês macarrônico precisa de mais aulas para soltar traduções mais próximas da vida?
O que importa é que Freehold é repleta de pequenezas tão grandes quanto as de São Paulo. O boçal do interior norte-americano em nada deve para o classe média decadente que toma seu café no sábado à tarde numa padaria da Brigadeiro Luis Antonio enquanto agride o serviçal, o dono do café, aquele que o serve e pede muito mais que um insulto por viver à sua frente.
São Paulo, como a Freehold que Springsteen pede para se libertar em "Thunder Road", é repleta de miudezas que a fazem tão ambigüa como pegar qualquer estrada e atravessar os EUA de leste a oeste, como em "Transamérica". Mas o pensamento arcaico, conservador, não é maior à medida em que segue rumo a lugares distantes e sem tanta informação. Ao contrário dos EUA, absorver o centro toma para si aquela mesquinharia pagã dos que se acham maiores que outros por tomarem avião, e não ônibus, carros, e não trens. O paulistano é boçal à medida que cresce.
Então, faço minhas as palavras de Bruce, e vejo que São Paulo é a minha Freehold ao abrir o jornal e ver absurdos escritos na página 2, aquela da opinião, aquela que não é a minha opinião.
E a São Paulo boçal forma o entrevistado do Jô Soares e seus espectadores. E foi São Paulo quem deu asas para esse gordo ignorante e mal-informado, que vomita ego à cada noite, madrugada.
São Paulo tem 10 milhões de habitantes, 1.500 km quadrados de extensão, mas é tão pequena quanto Freehold. Olho pela janela e vejo cidades se organizando, no sentido político da palavra. Aqui, não. Aqui, a pequenez faz cada um pensar em seu universo particular, na saúde particular, na educação particular, no transporte particular. Talvez em Freehold as coisas avancem.

Sunday, November 05, 2006

Sorry, periferia

Geraldo Alckmin diz no SPTV que vai se dedicar à acupuntura enquanto não tiver cargo público. Hahaha, sem querer, é o cara mais engraçado do Brasil, nosso George Constanza. Nada apaga da minha memória o dia em que ele disse "MediCIna TraDIcional CHInesa" numa coletiva.

Desapego

Douglas Coupland, no Brasil, é mais conhecido por um termo do que pelo livro que originou o termo: Geração X. O livro nunca saiu aqui _há edições de Portugal e populares em espanhol_ e as edições com a assinatura de Coupland publicadas no Brasil são semi-desconhecidas. Pesquei no título de uma delas o título deste post, “Primeiro o Amor, Depois o Desencanto e o Resto de Nossas Vidas”. São contos compilados crus e simples, sempre na primeira pessoa. O texto que dá origem ao título português (em inglês é “Life After God”, outro conto, desta vez inspirado em Michael Stipe) é áspero e talvez você nem concorde com o que ele diga, pois desenha um trágico panorama para os que ainda aspiram o amor. A mãe do personagem central diz que ele, o amor, não sobrevive à primeira aberração, aquela que separa a empolgação inicial dos perdidos _dar um perdido é o sentido natural daqueles que vivem no nosso tempo. Para ela, a mãe, depois do desencanto vem o resto da vida, e a partir daí nada mais sobrevive, com o amor substituído pelo respeito, mas um respeito nada nobre, é quase um aceno cordial de bom dia. Um amor não sobrevive a um desencanto, mas a vida vive de uma porção deles _daí, mirem-se em seus times, em seus empregos, em seus parentes. Só gostaria de saber qual é a gênese dessa sobrevivência.

Simbiose

"Quando você der pra outro cara/lembre-se que alguém se masturba/Alguém do outro lado da cidade se sente em sintonia/ e pensa em você"
Júpiter Maça, em Essência Interior

Ai minhas costas

Dura cerca de duas horas cada CD de cada série de cada temporada do Seinfeld. Meu sofá é desconfortável, logo gasto esses 120 minutos jogado no chão, sobre uma almofada com cara de sofá, e vice-versa. Isso dói as costas, e às vezes dói minha barriga de tanto rir. Porque eles são losers, cara, losers como eu e todo reincidente no amor destes anos 00, embora eles, os quatro do seriado _não tô contando o Newman_, sejam da década de 90, a década passada, a década do eu-nada-lírico, da embromação perfomática do eu sozinho, da embromação nada-social. Nada, nada, nada, nada (se bem que esse recurso era bem anos 80, como diria os cariocas da Blitz).
Bom, mas eles não amam, eles se dão mal. Eles não sabem o que é o amor, sabem o que é a paquera, mas nada avança além do quinto encontro, do primeiro, do segundo mês. Isso é igual muita gente, Seinfeld é igual muita gente. A gente brinca, tentando ser irônico sem ver a dor passar. Tá, pode brincar. Para os nossos anos, antidepressivos. Só eles são bons; a gente, não.
E olha que a ironia é a arma dos inteligentes, mas, olha que inteligente, o Raul Seixas dizia que só era feliz quem não pensava, mas acho que eu penso, sim, e logo não sou feliz. Mas eu amo, por uma semana ou duas, como um personagem do Seinfeld, mas eu amo. Aliás, o único que ama lá naquele meio é quem não tem a menor pinta de amar, o Kramer. Mas ele ama por não ter a menor pinta de amar e parece ser o mais feliz do quarteto. Por que? Por não pensar, ele vai lá e faz, pinta alguma e faz, ele tem idéias e põe em prática, dá errado mas ele não pensa em nada.
Quem disse que pensar é coisa para inteligentes? Eu, heim.

Saturday, November 04, 2006

Que bom que não seria se eu tivesse um amor

Putz, uma música do Jards Macalé dá nome a este blog. Tá no primeiro disco, difícil de achar na rua mas fácil de encontrar nos programas de busca. Pô, o Jards deva estar muito feliz com essa gente baixando coisas velhas que continuam encostadas nas fileiras do "fora de catálogo" _e olha que tem o Charles Gavin com um trabalho bom, fuçando arquivos, republicando bons discos.
E tem gente muito boa, como o Fernando Rosa, o Senhor F, que resgata gente muito boa e incentiva gente muito boa a postar arquivos muito bons como os da Brazilian Nuggets. Isso é fodido, é genial, é democracia naquele sentido amplo que o Geisel gostava de dizer mas que fazia bem pouco ou quase nada. Não fosse por eles eu não tinha ouvido o primeiro disco do Jards, inteirão, cheião de letras fantásticas de Capinam, Torquato e Wally. Foda, foda, foda.
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Já que o tema do post aí de baixo é morte, o do blog, amor, e o título desta coleção de mãos traçadas é tirado de uma música de Jards letrada por Capinam, solto mais Jards:

"Se me der na veneta eu vou
Se me der na veneta eu mato
Se me der na veneta eu morro
E volto pra curtir"

É a letra de "Revendo Amigos", quase minimal, de Wally também. É Jards, é quase Jarvis. Deve ter alguma coisa na água e na combinação destas três primeiras letras.

(O primeiro disco solo de Jarvis Cocker, ex-Pulp, é coisa das melhores a sair de um estúdio de gravação neste 2006 morno. E quem ama gosta de música, e eu gosto pra caralho dos dois).

("Cê", de Caetano Veloso, é tão amargo quanto qualquer amor desgastado. E é lindo de doer. Deixe o preconceito em casa e ouça. Tem música com título de gênio, "Wally Salomão").

Uma resposta

Pereio elege suas top 3 na coluna do Joaquim Ferreira dos Santos, em "O Globo" de hoje. A 1ª é Carla Cipollina, a advogada e principal suspeita de ter matado o coronel Ubiratan _o que foi uma missão que muito macho amaria fazer, incluindo eu e meu amigo André (sem sobrenomes, ok?):
"Tô apaixonado por ela, é minha heroína, maravilhosa. Só gosto de fera, todas as mulheres por quem me apaixonei são cabo de aço, brabas, ferozes. Não tenho o menor medo de ela me matar porque tô com 66 anos. Ser assassinado por ela seria uma glória. Ela é cirúrgica, só deu um tirinho naquele coronel. Nem doeu. É assim que eu quero morrer".

Ah, mulherzinhas

Lá em Itaquera, ser mulherzinha independe do sexo. Mas geralmente são mulherzinhas as crianças que não lutam pelo que querem, caem no choro, e assim é fácil, né meu chapa. É um argumento bobo para deixar o menino com vergonha e ele não chorar novamente. Dá certo.
A diferença é que a gente cresceu, e aqui nesta terra, desculpa, mas você tem que ser agressivo _mas não tosco, mulambo, malandro. Tem que lutar por seu espaço. E mulherzinhas agora são mulheronas, moças sem coragem que se ocupam da falta do que fazer para desfiar reclamações, e por aí só o sol se perde e vai se pôr em outra lugar. Ah, mulherzinhas, deixem de reclamar!
Outro dia encontrei um amigo na rua, bronqueado de o parceiro reclamar feito uma mulherzinha em casa enquanto ele, de folga, vagava sem rumo pelas ruas perto de casa tentando entrar no contexto daquela situação _o povo aqui trabalha muito, folga pouco, sofre sempre, e nem sempre é bom. "Ah, gosto de homem porque homem não tem essa coisa de mulherzinha", disse o moço.
Olha, gosto mesmo é de mulher, de frescura de mulher, de cheiro de mulher, de choro com conteúdo. Mas não gosto de mulherzinha. Mulherzinha é vago, é choro sem sentido, daí vá vagar em outro lugar, que na minha vizinhança _e em todo o meu complexo, que inclui cabeça, coração, peito, pinto e pé e várias veias trazendo sangue para o meu abraço ser ainda mais apertado_ não tem espaço para essa gente que se mata para se sentir vítima, para dizer que você não presta.
Pois presto sim, mas não para meninas mulherzinhas gente que não anda sem rodinhas. Pronto.

Meu Amor Me Agarra & Geme & Teme & Chora & Mata

O meu amor pode não ser o seu. O meu amor é o sentimento à flor da pele, é descobrir na rua um motivo para dizer sim ou não hoje. Ou amanhã. Meu amor é quase memória.
Este amor aqui, que agarra, geme, teme, chora, mata, vai nortear meus passos neste blog, um blog sobre o amor _seja lá o que você pensar que é o amor.