Sunday, January 27, 2008

Arquitetura da destruição

Resolvi percorrer os quarteirões da cracolândia, antes que seus prédios virassem pó. Trata-se de uma política social com mais cara de intervenção geográfica. Não digo que evitei ruas como a dos Gusmões e alamedas como a Nothmann por temer as hordas de sem vida que ali militam, mas também não me impressiono com um programa que prefere expulsar certas párias a tentar integrá-las. Novas cracolândias vão surgir, e fique claro que não digito aqui uma torcida, e sim uma constatação.
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Volta e meia uma criança aparece entre o entulho. Parece não ter rosto. Lembrei dos zumbis de "Extermínio", obra de Danny Boyle que mais fala de amor do que assusta. Ali, homens e mulheres com alma resistem aos bárbaros. Aqui, a alma carece a quem ainda não foi sodomizado pelo crack. Quem os controla, ou os deveria controlar.
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Dos antigos palacetes, em alguns restam apenas a fachada. O plano era demolir para construir. As placas de aluga-se sobre a porta de ferro, encobrindo nomes de palacetes com o nome das ruas escritos ainda em português arcaico, com cês precedendo outras consoantes e agás antecipando as vogais. Tudo vai virar lixo.

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