Amigos reais, virtuais e imaginários
Um pôster é o melhor amigo de Sam, o protagonista do novo romance de Nick Hornby, “Slam”. O herói adolescente do primeiro livro juvenil do escritor está a léguas dos exemplos que o povo de 15 anos deseja seguir, mas a relação diz muito sobre a solidão dos adultos.O Tony Hawk pendurado no quarto ouve e diz o que quer, baseado nas memórias escritas em um livro anterior da lenda do skate. É a base do garoto, que vê os amigos como portas pouco dispostas a ouvi-lo. O “slam” é o tombo que não cicatriza, e Sam não tem com quem dividir.
Tal qual um boneco de orelhas descascadas que dividia minhas confissões antes de qualquer amigo de verdade aparecer, aos cinco anos. O imaginário aqui é mais real do que o real.
O tempo passa e sinto saudades do tempo que o cão laranja de orelhas despedaçadas estava disposto a saber o meu perde-e-ganha na vida, sem concessões. Não é à toa que canções que descrevem o desespero perguntam dos amigos —se é que eles existem, onde estão? E se estão, por que não nos ouvem? Parece até uma súplica a um deus que não existe.
O destempero é obra dessa ordem mal-formulada que corrompe o estômago antes de desabrochar. Uma ordem agressiva e solitária —talvez o que nos atordoa seja tão imaginário quanto essas amizades, por isso o ouvido dos outros não funcione. Quando o real é a ordem dos outros, que nos suportam quando damos ouvidos sem um abrir de boca para confissões.
O problema está em quem agüenta essas queixas. Ou não. Ou talvez amigos não sirvam para isso. Afinal, o que seria dos pôsteres se essa técnica realmente funcionasse?
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