Monday, February 04, 2008

O passageiro

Um estreito pedaço de asfalto me leva de volta ao leste.

Na Radial, a pista dupla se transforma em uma até sobrar algumas faixas rentes. Vou espremido entre o motorista da perua e o homem que paguei 20 mangos para me ajudar a carregar as malas e caixas e quadros e lixos e livros e discos e nada mais. O céu de lá é mais azul, e de seus morros posso mirar o horizonte, ainda que os puxadinhos tomem essa vista a cada dia.

Com parte da vida amontoada na traseira, puxo um assunto. Falo de festas, de times, de lembranças e de planos para o futuro com quem acabei de conhecer. O futuro, dali a instantes, seria o passado, que seria o presente e aguardaria um futuro melhor.

E assim é. Da janela do trem, de volta ao espaço, miro o que vai ficando para trás, ouço os toques de celular e pesco uma ou outra lembrança para me deixar distraído.

Entre o futuro/presente/passado da vida hoje e as decisões para tomar/comentar existe outro espaço, o vazio da passagem, para ler mais livros, assistir mais filmes e tomar mais sorvetes. A barriga, já cheia, não cansa mais de esperar.