Sunday, April 13, 2008

A era da música é o passado

Os álbuns empilhados nas dez fileiras brancas na estante improvisada ultrapassam o milhar. A eles, somo discos velhos de vinil, alguns empoeirados e riscados, em que os sulcos entre as músicas cumprem a tarefa de engolir o ar para a próxima música.

Assim é a vida. Intervalos de uma faixa a outra de vinil velho, a agulha estourando pequenos algodões de sujeira. Cada trecho, intervalo de três minutos entre primeiros e últimos acordes. Um estouro de bateria, no começo ou no fim. Cápsulas de memória.

Das caixas de som, surge "All my Friends". São seis minutos, em crescendo, de uma visão amplificada de quem procurou driblar o embaraço do cotidiano nos últimos anos e viu o tempo passar como se ele nunca existisse. Até se importar.

É o oposto do que se prega na adolescência, quando se quer viver tão rápido quanto possível. Um adulto inconseqüente veria cinco anos passarem como se fossem cinco dias. E há tempo a perder, sim.

Os sulcos do vinil rompem os segundos, são quase intermináveis, é importante que a faixa comece logo. Tem gente esperando. As razões de ontem são as desculpas de hoje.

Não há mais onde errar. Os seis minutos se vão. James Murphy e o LCD Soundsystem têm a mesma pergunta que eu: onde foi parar todo mundo? Não sei. O tempo é de enxugar a tristeza e ir buscar sem embaraço o pedaço de carne tirado à noite.

Enquanto isso, volto à estante para procurar outra trilha para estancar o sangue.