Saturday, May 31, 2008

Escolha não escolher

Ha-ha, ora, ora, a ordem pessoal. Os corações de pedra só balançam sob o fogo do desespero. Pedra = gelo. Ora, tentem aquecê-los. Claro que sob a névoa de uma sexta-feira à noite, 12 graus e garoa fina entre as esquinas da Brigadeiro e da Augusta, sem o céu de Ipanema para enfeitar essa cidade suja, é mais difícil driblá-lo.

Certo, então corrompa as nuvens de pensamento enquanto assiste a um filme duro. Tente blindar o que sente quando sair à rua, trôpego de dor. Esqueça o ônibus que só deve surgir quando faltar cinco minutos para a 1h da manhã. Talvez ele não venha.

Junte os cacos do seu estômago enquanto ele balançar e seu corpo saltar sobre as lombadas. Não pense. Abra a cerveja da solidão, belisque o aperitivo da dor. Com o joystick na mão, drible a vontade de ter quem não mais te quer.

Esqueça os CVVs pessoais. Arrume um emprego. Ou faça como o Renton, de "Trainspotting": escolha não escolher a vida.

Prefira os livros de Irvine Welsh.

Friday, May 30, 2008

Amigos reais, virtuais e imaginários

Um pôster é o melhor amigo de Sam, o protagonista do novo romance de Nick Hornby, “Slam”. O herói adolescente do primeiro livro juvenil do escritor está a léguas dos exemplos que o povo de 15 anos deseja seguir, mas a relação diz muito sobre a solidão dos adultos.

O Tony Hawk pendurado no quarto ouve e diz o que quer, baseado nas memórias escritas em um livro anterior da lenda do skate. É a base do garoto, que vê os amigos como portas pouco dispostas a ouvi-lo. O “slam” é o tombo que não cicatriza, e Sam não tem com quem dividir.

Tal qual um boneco de orelhas descascadas que dividia minhas confissões antes de qualquer amigo de verdade aparecer, aos cinco anos. O imaginário aqui é mais real do que o real.

O tempo passa e sinto saudades do tempo que o cão laranja de orelhas despedaçadas estava disposto a saber o meu perde-e-ganha na vida, sem concessões. Não é à toa que canções que descrevem o desespero perguntam dos amigos —se é que eles existem, onde estão? E se estão, por que não nos ouvem? Parece até uma súplica a um deus que não existe.

O destempero é obra dessa ordem mal-formulada que corrompe o estômago antes de desabrochar. Uma ordem agressiva e solitária —talvez o que nos atordoa seja tão imaginário quanto essas amizades, por isso o ouvido dos outros não funcione. Quando o real é a ordem dos outros, que nos suportam quando damos ouvidos sem um abrir de boca para confissões.

O problema está em quem agüenta essas queixas. Ou não. Ou talvez amigos não sirvam para isso. Afinal, o que seria dos pôsteres se essa técnica realmente funcionasse?

Sunday, May 25, 2008

O real da vida

Meus dedos não formigaram nem meu coração deixou de bater. Sinto que as coisas passaram e mais uma vez deixei de ver como elas acontecem.

Ou não acontecem, porque é assim que a vida vai funcionando —assim, sem funcionar.

Não vi sangue, não vi fuligem, não vi a barriga crescer nem mesmo meu teto desabar. O tal choque de realidade ficou para depois.

Depois, quem sabe, não seja mais.

A vida não passou pela minha frente e assim ela se esvai. Tal como a chama tratada por Neil Young e que ganhou eco em cartas de um cara aí.

Talvez ele tivesse razão. Talvez não.

Deixo o embaraço de apenas eu entender o que se passa aqui.

Friday, May 23, 2008

Mulheres são da Arena; homens, do MDB

Elas tramaram o golpe e tomaram o poder. Agora, não sabem o que querem com ele.

Eles nem se importavam. Em um primeiro momento, até as apoiaram –afinal, tudo estava um caos e era bom mesmo que alguém botasse ordem na casa.

Seguiram-se torturas e autosuficiências irritantes. A nossa participação até era aceita, mas sob rédeas curtas. No auge da crise, pedem nosso auxílio e ajuda, mas inventam biônicos para nos roubar mais um pouco de vida.

A gente não quer mudar muita coisa —só ter o nosso direito de decidir de volta. Nada muito radical.

Somos de uma ala autêntica de uma era rachada, bipartidária. Até os que defendem a abertura do leque sabem que o eixo nunca vai mudar —sempre sim ou não, esquerda ou direita, diretas ou indiretas. Em breve, vamos descobrir que falamos a mesma língua.

No fundo, somos dois partidos que se fundem num só.