Monday, May 14, 2007

No mundo de mentira, quem é sério não parece ser

Celebridades, para nós, do lado de fora, vivem dentro de um mundinho particular que apenas contempla a ilha e as capas de “Caras”. O autismo globalizado, diria: todos querem expôr sua opinião sobre o mundo _e por mundo, aqui, entenda sua vidinha.
A diferença entre os que são sérios e os que não são foge à distância entre o continente e o território insular da revista-catálogo. Às vezes chega aos jornais, mas em outras, não.
Melhor comemorar quando abrem espaços para gente sensata opinar. Ou não, apenas relatar como as coisas são.
Não precisa ir muito longe. Hoje, na “Ilustrada”, o escritor Paulo Coelho dá uma aula de não-celebridade. Ou melhor, de celebridade que sabe estar inserida no contexto histórico.
Ele, como Roberto Carlos, tem história para contar. Mas, ao contrário do Rei, deixou que a jornalista da revista literária “New Yorker” o acompanhasse por dez dias e relatasse o acontecido em oito páginas do semanário. Surpresa maior foi o próprio autor descobrir que eles ainda utilizam de critérios jornalísticos que por aqui aposentaram _a rechecagem até mesmo de frases inofensivas, como uma a respeito da comida favorita.
Mais franqueza, apenas sobre a abertura de seus arquivos para que Fernando Morais escrevesse sua biografia. Prefere não consultá-la até ver publicada uma história sua que lhe dará prazer ao ler.
A história de Paulo contrasta com a auto-referência embutida em 11 de cada dez celebridades. Uma página além da do escritor, no mesmo caderno, contempla Luana Piovanni reclamando de Caetano por tê-la feito passar vergonha ao desmentir que uma canção tivesse sido escrita para ela. Não era, ele nunca disse isso nem nunca jamais vai dizer. Mas Luana magoou.
E Caetano pode até ser chato para a maioria e fazer uso desse conceito de ódio/reverência de seu público para criticá-lo ou zombá-lo. O show que voltou aos placos em São Paulo no último final de semana era o mesmo do final do ano passado _aquele que a cantoria conjunta era revertida em ironia/autocrítica. Como em “Odeio”, que bisou ao perceber ter ganho fácil a garganta da platéia. Eram os críticos dirigindo o “odeio” que Caetano tanto gosta; os chatos soltando o “odeio” que Caetano tanto quis que os fãs-chatos um dia o dissessem; era a abertura para que todos entendessem aquele “odeio” como quisessem e tirassem da leitura do sorriso de seus lábios qual conclusão preferisse.
Caetano e Paulo são de outra geração, mais próxima ao liberalismo hippie do que ao inconformismo punk. Mas remete muito mais aos últimos ao pisar nas flores e deixar implícito o “não me importo”. “Deixe que pensem, que digam, que falem”, já diria Jair Rodrigues naquilo que insiste em julgar como um pré-rap. Se não foi, ao menos valeu como mandamento dos cínicos. Que bom que eles ainda existam.