Batalha dos Aflitos
“Caralho, caralho!” Foi esta a reação ao ver o cronômetro marcando 60 minutos, um pênalti batido, defendido, um gol de arrancada, quatro expulsões... enfim, a partida da vida de um monte de gente, só não era a minha talvez por não ser gremista, embora fosse mosqueteiro.Grêmio e Náutico, novembro de 2005, apareceu na tevê após acordar de um cochilo no meio do jogo da Portuguesa contra o Santa Cruz. Aquela bravura inacreditável, tanto quanto os gritos alucinados do locutor da rádio Gaúcha que só agora escuto, no filme “A Batalha dos Aflitos”.
Porque não tem outra palavra para definir aquilo, eram sete contra onze, era o campo dos Aflitos, era um Timbú acostumado a amarelar nas horas chaves e disposto a não repetir esse feito. O documentário tem pouco das fitas do gênero, na verdade é um catadão por cima do jogo propriamente dito. Tem a campanha contada desde o rebaixamento que um desavisado diria roubado. Mas não foi – o Grêmio mereceu, sim.
O que torna “Batalha dos Aflitos” especial é o dom de saber que aquele jogo foi história para quem viu e torceu, mesmo longe. Aqueles 14 min de paralisação pareciam eternos à época – e continuam assim no filme. Cada empurrão, cada esbarrão, você sofre mesmo sabendo que nada daquilo irá mudar, o Grêmio estará na primeira divisão em 2006 e vai lutar pelo título, contentando-se depois com a vaga na Libertadores. Mas não dá para descrever a sensação da marca de pênalti cavada por Sandro Goiano, a luta de cada gremista para que daquele jogo não saia nenhum vencedor. O chute alvirrubro para fora, o abraço em Gallatto...
E quando Anderson foge com a bola, cava a expulsão de Batata, passa despercebido por um, dois, três zagueiros, chute rasteiro, no canto do goleiro... Deixa o locutor da rádio gritar “inacreditável, inacreditável” do mesmo modo que o velho chora e diz que aquilo tudo nunca fora visto na história do futebol. E duvido que um feito seja tão inacreditável como aqueles quase 110 minutos de duelo no melhor sentido desta palavra.